Como manter o foco quando a vida muda?

Um acidente, uma perda inesperada, uma falência, um desemprego, um divórcio, um endividamento, um conflito grave, um problema de saúde... estes e outros acontecimentos inesperados por vezes nos "tiram o tapete"ou "o chão". São imprevisíveis e normalmente de elevada intensidade emocional. Somos confrontados/as com o choque, o desamparo, o medo, a frustração, a angústia... No corpo sentimos aquela dor indescritível no peito, a perda de forças, a vontade de desligar para não acordar mais ou a vontade de dormir para depois acordar com a ideia de que tudo não passou de um sonho e a nossa vida esta como estava antes. Até que percebemos que é  a realidade... a nossa realidade.

Todas as reacções e sensações aqui descritas são normais e expectáveis e apesar das dificuldades e sofrimento que trazem é possível reerguermo-nos e lidar com o que nos assalta a mente: o medo, a incerteza, a angústia, o sentimento avassalador que nos faz duvidar das nossas capacidades... 


Existem algumas estratégias que podem ajudar a manter o foco e a lidar com esses momentos de adversidade. Neste artigo partilho algumas:

  • Gerir as emoções 
Importa sentirmos o que quer que seja que estejamos a sentir, expressando as nossas emoções. É também uma forma de permitirmos a integração da experiência na nossa mente. 


  • Cultivar as suas relações
Não somos uma ilha! O ser humano é biopsicossocial e por isso o contacto com outras pessoas é muito importante para a nossa regulação emocional e desenvolvimento. O sentimento de pertença é  igualmente fundamental para o nosso crescimento e motivação para a mudança. As outras pessoas podem ser ao mesmo tempo um suporte para nós e as nossas vivências, aprendizagens e competências podem igualmente servir de apoio às pessoas à nossa volta.

  • Aceitar que a mudança faz parte da vida
Tal como na natureza, a nossa vida é feita de ciclos e de mudanças. Permanecer em negação dificulta a implementação de recursos e estratégias para lidar com os desafios que surgem. Assim, dizer a nós próprios/as que a situação aconteceu, que não podemos mudá-la e encará-la de frente é uma forma de o fazer. Para além disso, "a crise gera desenvolvimento" já dizia Erik Erikson na sua teoria de desenvolvimento psicossocial, ou seja, as adversidades são uma forma de crescimento e de maturação.

  • Olhar para situação na sua real perspectiva 
Por vezes, perante uma adversidade ampliamos as dificuldades e os aspectos negativos. Concentrarmo-nos  nas evidências e factos permite que encaremos a situação de forma concreta e ajuda a gerir as emoções difíceis. Para além disso, abre a possibilidade para encararmos outras perspectivas, como por exemplo a oportunidade de aprendizagem e crescimento que a situação promove. 

  • Traçar pequenas metas alcançáveis
Definir objectivos realistas e alcançáveis ajuda a concentrar a nossa energia e foco em algo concreto e claro. Permite o enfrentamento/resolução da situação e faz-nos sentir que estamos em movimento, a traçar um caminho e a passar de um ponto para outro. A cada objectivo alcançado, surge um sentimento de concretização e a motivação para continuar aumenta.

  • Visualizar o que se quer alcançar
Criar cenários positivos ou adaptativos ajuda a mantermo-nos focados e a agilizar os nossos recursos para o que se pretende. Também ajuda na auto-regulação emocional.

  • Recuperar aprendizagens e recursos do passado
Recordar situações do passado e relembrar as estratégias que pusemos em prática para as resolver pode ser útil para encarar e lidar com a situação. A nossa experiência de vida também nos traz alguns recursos que podemos resgatar como estratégia para lidar com o presente.

  • Cuidar da mente e do corpo
Fazermos coisas que gostamos, manter a nossa higiene do sono, uma boa alimentação e a prática regular de exercício físico permite-nos alcançar o estado mental e físico para nos mantermos fortalecidos para lidar com as adversidades.

  • Pedir ajuda
Todos nós temos limites. Reconhecê-los e pedir ajuda a uma pessoa amiga ou familiar e/ou o apoio de um/a profissional é um acto de coragem e de força. 

  • Estar grato/a
Agradecer diariamente pelo que somos, temos. alcançamos e pelas pessoas que fazem parte dos nossos círculos ajuda-nos a valorizar a nossa vida, mesmo quando as coisas não estão bem. A gratidão permite-nos reconhecer o que é realmente importante. Demonstrar essa mesma gratidão é uma forma de retribuição. Estar grato/a ajuda a diminuir o sofrimento e a sarar feridas.

Como se costuma dizer "depois da tempestade, vem a bonança" e acrescento ainda que podemos participar activamente na construção e alcance dessa mesma bonança.


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Lília Andrade
Psicóloga Clínica e Hipnoterapeuta
Directora Técnica da Mente Positiva


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